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F. Larrañaga, e o senhor, como ora?

  • Foto del escritor: Casa Fundacional de los Talleres de Oración y Vida
    Casa Fundacional de los Talleres de Oración y Vida
  • 22 abr 2019
  • 7 Min. de lectura

Actualizado: 28 abr 2019


Al fala com o iniciador e realizador de “EXPERIÊNCIAS DE DEUS”.



1-E O SENHOR, COMO ORA?

Pergunta difícil de responder. Sempre relutei a manifestações deste tipo. Começo por confessar-lhe que não há muito tempo comecei a levar a sério a vida com Deus: uns vinte anos. Não são muitos, como vê, mas olhando para trás, me parece tão longo o caminho e, no seu percurso, aconteceram tantas coisas. Houve de tudo: longos períodos de aridez, em que Deus era silêncio pertinaz, então sofria de desalento e impaciência, sofria muito; períodos de normalidade; momentos de glória pelos quais valia a pena esperar uma eternidade, e que ficaram marcados em minha alma como cicatriz de luz que ainda está iluminando meu caminho. Houve de tudo.


Em certa época de minha vida, aconteceram comigo experiências, entendo que de caráter infuso. Do amor e da ternura de Deus Pai. Desde então minha relação habitual – nem sempre – na oração, é com o Pai e, como consequência, a atitude fundamental de minha alma tem sido o abandono. E por isto também, a mensagem central que trato de deixar nos Encontros é a da feliz notícia da ternura de Deus, e a atitude interior, por certo profundamente libertadora, que trato de insistir, é a do abandono.


Como oro? Há dias em que, devido a fatores de dispersão ou não se sabe o quê, necessito de apoios como, por exemplo, de uma frase, a modo de jaculatória reiterada. Com frequência oro escrevendo.


Há dias em que, devido a não se sabe que imponderáveis (processos biológicos? influência climáticas? emanações telúricas?) não se sabe nada. Nesses dias – não tão frequentes – tenho que conformar-me em fazer pacientemente uma leitura sossegada e atenta da Palavra.


2 – CONTE-NOS ALGO SOBRE OS “ENCONTROS DE EXPERIÊNCIA DE DEUS”

Poderia dizer-lhe que de certa maneira, estes Encontros brotaram espontaneamente, quase surpreendentemente, como muitas outras coisas de minha vida. Vou me explicar.

Por aqueles tempos, estou falando de uns quinze anos atrás, havia no ambiente eclesiástico, em que me movia com tanta confusão, tal o grau de secularismo que se subestimava abertamente, e com frequência até se depreciava, a atividade orante.


Tudo que não fosse promoção humana, se desqualificava com a famosa palavrinha alienação (por certo, palavra inventada por Marx). Lembro aquele seminário de estudantes de teologia, em cuja porta da capela apareceu um dia esta inscrição: “aqui está a escola de alienação”. A vida com Deus nos meios clericais havia sofrido um descenso quase vertical enquanto esvaziavam os seminários, muitos abandonavam o sacerdócio e a piedade naufragava por completo. Estava-se de tal maneira absolutizando o relativo e relativizando o absoluto que entendi que havia chegado a hora de gritar como nos tempos antigos: Recorda, Israel, não há outro Deus senão Javé Deus.


Por outro lado, por aqueles anos, havia acontecido em minha vida, não sei como dizer, qualquer coisa parecida com uma especial intervenção divina em que tudo se questiona e te desafia, em que tudo range e os valores sobem e baixam, enfim, um acontecimento. Por aquele tempo eu me retirava às montanhas, ao menos um dia na semana, e o meio de comunicação que usava para o trato com o Senhor eram os profetas – Isaías de preferência – e os salmos. Se me perguntassem por minha formação, diria que de alguma maneira me sinto formado nas montanhas, com os profetas.


4- AGORA BEM, QUANTOS SÃO, ONDE ESTÃO ESSES MESTRES DE ORAÇÃO? QUANTOS CRISTÃOS, QUANDO SENTEM NECESSIDADE DE CAMINHAR A FUNDO ATÉ O INTERIOR DE DEUS, BUSCAM UM SACERDOTE?

Eu estou em condições de informar-lhe de um fato doloroso que eu mesmo presenciei e que ninguém pode desmenti-lo, a saber: as grandes capitais do continente americano estão cheias de gurus budistas, mestres de meditação transcendental, importados do Ceilão, Paquistão, da Índia ou do Japão. E quando as pessoas sentem uma inquietação interior e desejos de transcendência buscam sempre a esta classe de mestres.


E este é um enorme desafio para a Igreja: onde estão aqueles homens de Igreja que sejam capazes de tomar um grupo sedento de Deus e conduzi-lo evolutiva e firmemente pelos caminhos de Deus? E se não se faz isto, tudo o mais é andar fora de órbita. Ao final desembocamos em uma questão de princípio e identidade: quem e o que sou? Sei muito bem que a estas perguntas e desafios os eclesiásticos sabem responder com uma quantidade de racionalismos e uma torrente de palavras. Mas, depois de tudo, não deixa de ser isto: um montão de palavras.


Não estou, como pode imaginar, mostrando culpados, mas fenômenos. Eu sei que ninguém tem a culpa: porque este vazio de mestres da vida na Igreja vem, creio, de muito longe, e basicamente – segundo entendo – da mesma formação clerical, uma formação notavelmente racionalista em que Deus se transforma em um ente abstrato e em um jogo de palavras. Frente às inumeráveis faculdades de teologia, disseminadas por todo o mundo, onde estão as Escolas de Oração onde se ensine a tratar com Deus, pessoa viva e verdadeira, de uma maneira prática, pedagógica e ordenada? Este é o principal vazio que sinto na Igreja Católica.


5-E O SENHOR QUE TANTO SE MOVIMENTA NO CONTINENTE AMERICANO, QUAL É, SEGUNDO SEU PARECER, A NECESSIDADE MAIS URGENTE NA IGREJA DA HISPANOAMÉRICA?

Responderei suscintamente: a de enlaçar a contemplação e o compromisso. Está-se dando passos neste sentido, mas ainda estamos longe da meta.


Por um lado, a oração havia sido pouco comprometida: os que identificavam a atividade orante com evasão não andavam longe da verdade. A dimensão contemplativa de Jesus é um ato evangélico espetacular e questionador: eu me encontrei com mais de vinte textos evangélicos que dizem que Jesus se retirava sempre só, geralmente à noite e quase sempre a uma montanha ou lugar retirado. Direi mais: se nos atemos aos textos evangélicos, muito poucas vezes aparece Jesus assistindo a uma liturgia do templo ou da sinagoga , enquanto que as características externas de sua oração são mais de um anacoreta. De todas as formas a dimensão contemplativa de Jesus destaca-se como uma cúpula proeminente.


Mas se este fato é notável, há outro fato na vida de Jesus ainda mais explosivo e desafiante: sua entrega preferencial, quase exclusiva, a todos os esquecidos e abandonados da sociedade de seu tempo. Frente a uma sociedade eminentemente classista, dominada pelos puritanos, legalistas e formalistas do sinédrio, Jesus, para grande escândalo daqueles, preferiu os explorados e pecadores, entregando-lhes sua mensagem e sua atenção, não exclusiva, mas preferentemente. É um fato inquietante que está aí como uma cidade de luz no alto, reclamando-nos, questionando-nos, urgindo-nos a tomar posição, com um golpe de timão, a favor dos últimos, muito antes que Medelín e Puebla nos desafiassem com suas insistências. A questão é uma: olhar para Jesus Cristo e atuar conforme este modelo.

Paira entre nós a seguinte impressão: A de crer que os conservadores rezam muito e se comprometem pouco, e os progressistas se comprometem muito e oram pouco. É possível que haja um fundo de verdade nestas afirmações.


Muitos crentes e por demasiado tempo fizeram da oração algo vazio e estéril, dando provisão e satisfação a sua emotividade, sem comprometer-se com aqueles com os quais Jesus esteve comprometido. E, em outro ângulo, os chamados liberais por muito tempo rebaixaram os valores sobrenaturais e a oração; e, de tal maneira engrandeceram as realidades terrestres e a promoção humana que, às vezes, tínhamos a impressão de que o novo nome de Deus era homem.


Em nome de Jesus que enlaçou os dois extremos de maneira indissolúvel, chegou a hora de fazer um esforço para unir em um só jugo a contemplação e a combate.


5- EM BREVES PALAVRAS, POR QUE SE ORA E POR QUE NÃO SE ORA?

Há muita gente – penso que a grande maioria do povo cristão – que ora pedindo favores para suas necessidades, e somente se lembram de orar quando se veem apertados em uma contingência. Não há dúvida de que este hábito – apesar de ser uma recomendação evangélica – é a forma menos pura de orar. Um dos grandes méritos da Renovação Carismática é o de haver introduzido no povo a oração “desinteressada” de louvor.

Há outro grupo de pessoas que oram em momentos de angústia e inquietação interior, buscando em Deus a paz, porque sabem por experiência que só Deus é o porto de descanso.


Há pessoas, também, que oram porque não podem viver sem Deus. São aqueles que receberam, como predisposição congênita de personalidade, uma notável sede de Deus, um atrativo e nostalgia irresistíveis por Deus que lhes faz buscar ao Senhor quase inevitavelmente ao longo de seus dias. Eu não sei se isto é graça ou natureza. Tendo a pensar que se trata de natureza: assim como há pessoas que nasceram com uma sensibilidade extraordinária para a música, outros nasceram com uma sensibilidade particular para o transcendente: especial graça divina, mas inserida na constituição genética. Esta classe de pessoas poderá ter retrocessos e recaídas, mas sempre se levantarão em busca do rosto do Senhor, impulsionadas por aquele “instinto” divino.


Todos esses grupos de orantes, de alguma maneira e implicitamente, se buscam a si mesmos em Deus. Entendo que a Igreja tem que ser um Povo de Adoradores em espírito e verdade, que busquem a Deus em si mesmo e por si mesmo, sem outra utilidade mais que a de reconhecer e reclamar sua existência, soberania e amor.


E por que não se ora? Seguramente tem que haver neste ato uma grande complexidade de casualidades. Mas a observação da vida me levou à conclusão de que a razão principal deste fato é a seguinte: a desproporção entre os esforços e os resultados, e quando digo “resultados” (assim entre aspas) não me refiro aos efeitos transformantes da oração na vida, mas à percepção ou experimentação sensitiva do ato de orar.


Sendo a oração uma convergência entre a graça e a natureza, e, ao ser a graça pura gratuidade e a natureza pura instabilidade, os “resultados” da atividade orante serão necessariamente imprevisíveis e nem sempre aos esforços humanos corresponderá a assistência da graça.


E, como estamos acostumados às leis da rapidez e da eficácia, a tanta ação, tanta reação; a tal causa, tal efeito... as pessoas começam a desanimar-se quando veem que os “resultados” não correspondem aos esforços, chega um momento em que tudo lhes parece tão desproporcional e irracional que, pouco a pouco, vão “perdendo a fé” em tudo isto, e acabam por abandonar por completo a vida séria com Deus.


Outro fator é o medo de Deus, como dissemos mais acima, medo de comprometer-se, medo de que o Senhor Deus, com a ponta do dedo, comece a questionar-nos em todos os terrenos... e por esse medo as pessoas preferem ficar a uma certa distância de tão terrível interlocutor.

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